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Paulo Cavalcanti, presidente da Associação Comercial da Bahia

Empresário, advogado, escritor e agitador social é exemplo de superação e de incansável luta em defesa da consciência cidadã participativa transformadora

O empresário e advogado baiano Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB), conversou com o jornalista Benneh Amorin, diretor da Super Revista, em seu escritório no Mundo Plaza, em Salvador, sobre o seu livro “E Aí? Isso é da minha conta?”, que retrata de reflexões sobre a consciência cidadã participativa transformadora, abordando temas como: democracia participativa, política, da necessidade de investimentos na educação e como aprender a cumprir nossos deveres e cobrar os nossos direitos, assegurados na Carta Magna Maior, a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB).

 “Com esta Teoria da Consciência Cidadã Participativa Transformadora, busco apresentar a ideia de que se quisermos uma sociedade transformadora, que daqui a vinte anos tenhamos melhores índices de desenvolvimento econômico e justiça social, a hora de começarmos esta mudança é agora e ela depende de cada um de nós”, trecho extraído do livro “E Aí? Isso é da minha conta?”.

Paulo Cavalcanti, que está à frente da Fundação Paulo Cavalcanti, do Movimento Via Cidadã e da Certificação da Gestão Consciente da Função Social da Empresa (C-GESCON) enfatizou ainda que o cidadão assegurado pela Constituição Federal, deve cobrar do presidente da República, dos governadores do Estado, dos prefeitos municipais, dos deputados e vereadores, a garantia de serviços públicos eficientes.

O escritor e advogado falou à Super Revista sobre o período que foi acusado de ser líder de uma organização criminosa, responsável pelo desvio de bilhões de reais dos cofres públicos. Falou do período que foi preso injustamente na Operação Alquimia, em 11 de agosto de 2011, comandada pela Polícia Federal e Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, dentre outras instituições do Estado brasileiro.

Paulo Cavalcanti enfatizou como deu a volta por cima depois da Operação Alquimia, conforme ele se defende, de ser injustamente humilhado e utilizar da adversidade para se reinventar e continuar a sua vida pessoal, social e profissional. Após o baque, cursou Direito na Universidade Católica e, em 2019, ingressa como vice-presidente na Associação Comercial da Bahia e passou a coordenar os Núcleos Jurídico e o de Gestão de Crise e Reputação, além do Grupo Especial de Defesa na Função Social da Empresa. Atualmente, estar presidente da Associação Comercial da Bahia e conduz o Escritório de Advocacia Paulo Cavalcanti.

Em seu livro, Paulo Cavalcanti ressalta ainda da discriminação para com a figura do empresário: “Hoje, vivemos uma cultura de criminalização e demonização do empresário. Uma visão generalizada de que o empresário é egoísta e só visa o lucro. De forma distorcida, se conceitua a palavra “empresário” de forma pejorativa. O sucesso do empreendedorismo não é visto como motivo de orgulho, sempre se buscando uma justificativa ilícita para a produção e o acúmulo de riquezas”.

Paulo Cavalcanti, se define como ativista das causas sociais. Como liderança do associativismo empresarial, sua luta é pela defesa e valorização da função social da empresa. Como ativista das transformações sociais, sua jornada é para transformar o Brasil em um País mais digno para os brasileiros.

Meta de Paulo Cavalcanti na ACB é promover o resgate da ideia da filosofia social e da consciência cidadã

 

Benneh Amorin –  Como Paulo Cavalcanti define Paulo Cavalcanti?

Paulo Cavalcanti –  Eu agradeço e sinto-me orgulhoso em poder conceder entrevista à Super Revista, um meio de comunicação que fala sobre o setor do varejo, que já conheço, acompanho e que também faz parte da minha vida com 45 anos empreendendo neste País e no Estado da Bahia. Tenho orgulho de quando se fala sobre Paes Mendonça e lembro-me quando menino que o sinônimo de fazer supermercado, era: eu vou fazer Paes Mendonça. Sobre a pergunta, Paulo Cavalcanti se define como um cidadão brasileiro, exatamente igualzinho a todos os brasileiros. Não tem diferença. Com as mesmas oportunidades e o privilégio de ter nascido. Paulo Cavalcanti é mais um que teve sorte de nascer, de fazer parte, de construir e de pensar de como vamos melhorar nosso ambiente, nosso bem-estar, nossa sociedade, a nossa política e a nossa cidadania. Sou um ativista da função social da empresa, um idealizador. Um novo filósofo, que acredita que temos uma nova filosofia de como podemos transformar a nossa nação e o mundo. E posso provar como podemos fazer isso em nosso livro “E aí? Isso é da minha conta?”. Reflexões sobre a consciência cidadã participativa transformadora.

BA –  Fale um pouco sobre a sua origem?

PC –  Faço questão de começar falando de minha origem. Nasci em Salvador, em 1959.  Tenho 64 anos. Sou filho de Paulo Cavalcanti e Aldair Monte Negro Costa Pinto. Tenho quatro irmãos. Sou uma pessoa simples. Não gosto da classificação pobre porque acho que pobre é presença de espírito. Minha mãe e a minha avó também sempre diziam o seguinte: Meu filho, seu pai está em uma situação aparentemente difícil, mas se você tiver dignidade para sempre estar buscando o melhor, você não é pobre: pobre é a presença de espírito. Gosto de começar pela origem porque meu pai era chofer de caminhão de terceiros. Um pernambucano que aprendeu a dirigir caminhão no exército e, a minha mãe, era professora primária, mas quem a acolheu foi uma tia dela porque os seus pais moravam em um vagão de trem abandonado com outros 13 irmãos, na via Parafuso, entre Camaçari e Simões Filho, em 1930. Será que era fácil naquela época? Como era criar mais 13 filhos? É isso que chamo a atenção porque a minha origem dá uma motivação para as pessoas que estão ouvindo dizer: “Espera aí, a minha vida é maravilhosa, eu tenho água potável, luz, televisão, internet, celular, tenho oportunidades de vencer na vida e superar as minhas dificuldades”. Depois de muitas tentativas de trabalho que não deram certo, meus pais construíram uma fábrica de destilar solução de baterias, a Sasil, e, a partir daí, eu já com meus 16 anos e o meu irmão com 18, começamos a empreender. E, nos anos 1977 e 1978, surge o Polo Petroquímico de Camaçari, e, efetivamente, entre carregar litro no lixo, onde é a Toca do Leão hoje, e papelão velho, no beco de Maria da Paz, e também vender verduras e livros; aconteceu, o melhor, fui começar a vender produtos químicos no Polo Petroquímico de Camaçari. Através de muito trabalho, a nossa empresa foi destaque nacional entre as três maiores de produtos químicos do Brasil e a quarta da América Latina. Isso fez com que Paulo Cavalcanti chegasse aos seus 52 anos já realizado, mesmo com todas as dificuldades com o Plano Collor, Sarney I e II. Ou seja, com todas as dificuldades que qualquer empresário enfrenta. E tudo isso foi atacado e destruído com a Operação Alquimia, da Polícia Federal, em 2011, quando alegaram que eu tinha R$ 23 bilhões na minha conta. Isso levou a destruição do Grupo Sasil, 1.250 empregados demitidos e também 800 terceirizados, fui preso e conduzido para a Penitenciária Lemos Brito e durante cinco dias acusado de liderar um suposto esquema que envolvia empresas de fachada. Tudo isso pode ser assistido no documentário “A Alquimia da Verdade” no canal do YouTube com depoimentos do Supremo Tribunal Federal (STF), do juiz federal e do nosso advogado Gamil Foppel, mostrando os absurdos desta operação.

BA – O que norteará a gestão de Paulo Cavalcanti à frente da Associação Comercial da Bahia?

PC – Na Associação, começamos a resgatar a ideia da filosofia social da consciência cidadã; é quando digo que precisamos ter consciência cidadã participativa transformadora. Aí acontece a minha mudança de vida e a minha transformação. Depois da Operação Alquimia, eu tinha dois pensamentos: me entregar, desistir, ficar colocando a culpa no Estado ou lutar para provar aquele emaranhado de erros provocados pelo Estado. Ora, eu fui competente, construí uma empresa enorme e quem destruiu a minha empresa foi o Estado. O Estado cometendo autocanibalismo mata a galinha dos ovos de ouro dele, que é a pessoa que gera emprego, renda, tributos, bem-estar social e desenvolvimento econômico, isso está previsto na nossa Constituição. Eu poderia ser um cara deprimido, me lamentando, chorando ou pensando de quem era que iria me vingar. Quem era o meu inimigo? E eu não tinha um inimigo, um concorrente. Mas, Paulo, ninguém erra tanto assim? Sim, erra sim. E é assim que temos que pensar. As instituições públicas e nem as pessoas jurídicas foram feitas para serem bandidas, criminosas. Óbvio que existem sim, empresários sonegadores. Não estou falando dos que convivem com a informalidade, que é maioria em nosso Estado e em nosso País, maior que a formalidade. Isso é uma realidade que fingimos não ver. Ou seja, você vai prender alguém que é sonegador, quando na realidade tem em sua maioria nos postos de trabalho de seu Estado a informalidade. Não sou eu que estou dizendo, é o IBGE. O que ocorre. Óbvio, que eu não tinha um inimigo, a minha sonegação era federal. Imagine eu com uma empresa distribuidora, uma transportadora, que tem de pagar IPI e ICMS, vai deixar de sonegar bilhões da contribuição social sobre o lucro que vou ter. É de uma ignorância e falta de insensatez horrorosa, um dos maiores absurdos que você possa imaginar existir. Criar empresas, laranjas e fantasmas para sonegar contribuição social sobre o lucro. Então, erros existem sim. Quem comete erros são pessoas, não são as pessoas jurídicas ou instituições públicas. É um absurdo, mas destruiu a minha empresa e me levou para a prisão. Depois da turbulência fui fazer Direito e me apegar à Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), de 1988, que é fantástica, que é capitalista, de livre iniciativa, com liberdade de ir e vir, inciativa privada e direito à propriedade. É o que está em meu sangue. Eu sou empresário, empreendedor, sou gerador de riqueza. Cada um nasce com o seu talento. E a capacidade de resiliência de reconstrução também é questionável, por isso estou aqui e a Associação Comercial da Bahia novamente em evidência. E o que foi que gostei. Eu me questionei de que precisava de ferramenta para transformar e, o associativismo, é uma ferramenta transformadora. A primeira coisa que quero na Associação Comercial da Bahia é fazer com que todo o empresário, todo líder empresarial, de qualquer associação, sindicato, seja ele de empregador ou de trabalhador, entendam que podemos fazer. Transformar essa massa em consciência participativa. Somos campeões em reclamar, não ter atitude nenhuma e transferir a responsabilidade. O que eu trago é que não existe salvador da pátria. Não existe nenhum homem sozinho que vai resolver o problema do nosso País, nem de extrema-direita e nem de extrema-esquerda. Precisamos despertar o sentimento de pertencimento de unidade do povo brasileiro. Meu movimento é suprapartidário, ele não tem a ver com o partido a, b ou c porque na CRFB, antes da discussão partidária, religiosa e de outros seguimentos, temos os direitos do cidadão brasileiro e precisamos parar com essa questão de polarização: empregado contra empregador, branco contra negro, hetero contra pessoas GLBTQIA+. Nós precisamos de unidade e todo o povo brasileiro em busca de uma melhoria, de prosperidade, de paz e desenvolvimento econômico.

BA –  No alto da sua trajetória de sucesso como empresário com mais de 40 anos de atividade. É fácil empreender no Brasil?

PC – Não, empreender no Brasil não é fácil. Se empreender no Brasil fosse fácil nós não estaríamos falando em acolhimento, na Associação Comercial. Se nós temos uma maioria de empresários que denomino de “empresário raiz”, que é o informal, mas é trabalhador, é digno, é honesto; são guerreiros e guerreiras que saem todo o santo dia de casa para ganhar o pão de cada dia de seus filhos, seja trabalhando em barraca, com artesanato, com acarajé, vendendo coco, sendo personal trainner, como Uber ou vendendo frutas e verduras; essas pessoas são guerreiras, são raiz, tem o direito de brotar e frutificar. O acolhimento é mostrar para essas pessoas que entendam que podem pagar o seu imposto. Podem começar pagando como MEI o valor de R$ 72,00. Nós temos que na prática acolher essas pessoas e unidos transformar esse País. Venham conhecer a Associação Comercial da Bahia e vamos exercer a democracia participativa. Nos afastarmos da política foi um erro seríssimo que fizemos. Quanto mais, nós empresários, estarmos envolvidos com o País, o Estado menos precisa. O Estado é elástico. Quanto menos educação, menos saúde, menos saneamento básico e menos moradia, mais necessidade de se ter o Estado. É sim, da nossa conta. É nossa responsabilidade. Podemos fazer e transformar. Acredite, você é a via de transformação.

BA –  Quais as maiores dificuldades enfrentadas pelos empresários?

PC – As pessoas costumam achar que a solução para empreender no Brasil ou gerar riqueza e empregos é trazendo sempre empresas de fora. Temos como exemplo, a Fábrica da Ford que veio para o Brasil. Imagine, se já temos 54% de postos informais, isso é com certeza empregos. Quando eu falo em acolher um empresário informal, transformando-o em um MEI, em um micro empresário, estamos gerando emprego e, essa pessoa, irá trazer mais alguém de sua família para compartilhar com ele. O mercado que eles chamam de mercado subterrâneo, acho até uma conotação um pouco pejorativa, ou seja, o mercado informal tem vida própria e todos nós convivemos com camelôs em frente das lojas, vendendo nas feiras ou na própria frente do supermercado. Se você acolhe esse cidadão informando-o que ele pode pagar o tributo, já é uma forma de orientá-lo. Pesquisas apontam que esse mercado informal movimenta R$ 1,7 trilhão. Quantos de nós sabíamos disso? É só verificar nas pesquisas da FGV e do Instituto Ethos, que são informações oficiais. Não estou inventando. Se capturássemos somente 28% deste mercado, teríamos um equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) maior que os países aqui da América do Sul e, se fosse todo o valor, seria maior que o PIB da Suécia. Olha a riqueza do Brasil. Estou falando de dignidade humana, pilares de autoestima cidadã. Não estou falando de dinheiro, da receita, estou ponderando sobre o sentimento de pertencimento. Se trazemos esse cidadão e falarmos para pagar o imposto, ele se sentirá pertencente e começará exigir direitos e a fiscalizar o poder público. Porém, existe uma insegurança jurídica para aqueles empresários que querem começar o seu negócio. Mas não podemos perder a nossa dignidade humana e a ideia de querer aprender sempre, precisamos ensinar, precisamos de educação. A educação é fundamental, sem ela não tem transformação. Mas antes da transformação, vem a consciência cidadã participativa. Tudo passa pela economia e pelo empreendimento. O empresário brasileiro precisa ser aplaudido, respeitado, motivado e ter o sentimento de gratidão daquele que não tem a mesma aptidão de desenvolver empreendimento, riqueza e produzir empregos. Não existe empresa sem pessoas. Hoje, vivemos uma cultura de criminalização e demonização do empresário. Uma visão generalizada de que o empresário é egoísta e só visa o lucro. De forma distorcida, se conceitua a palavra “empresário” de forma pejorativa. O sucesso do empreendedorismo não é visto como motivo de orgulho, sempre se buscando uma justificativa ilícita para a produção e o acúmulo de riquezas.

BA –  O que você pode falar para que uma empresa tenha sucesso e ser bem administrada?

PC – Apesar de as pessoas quererem ouvir o discurso daquela caixinha arrumadinha, onde o cara tem que contratar um bom executivo etc. Já eu não acredito em fórmulas prontas. Se fosse assim não veríamos tantos supermercados dando certo em um determinado tempo, e quebrar depois, e tantas lojas serem tão poderosas e também quebrarem.  Mas existe sim, os valores. O maior valor que o empresário pode ter para dar certo, é sendo correto e íntegro para com os outros ao seu redor, seus sócios, seus fornecedores, clientes, funcionários e parceiros. É a sua marca. A sua imagem que faz com que a sua empresa se recupere. Eu não me recuperaria jamais se não tivesse uma história, uma boa relação com as pessoas ao meu redor. Meus funcionários saberiam se fosse sonegador. E, naquelas 150 empresas invadidas, que não eram minhas, e das 37 prisões, alguém iria dizer: esse cara aí sonegava sim. Mas não foi o que aconteceu. Não houve denúncias por parte deles. Isso serve para tudo na vida. Se você é um empresário que é direito, correto e também passa por dificuldades você vai receber apoio até de seu concorrente, alguém vai lhe ajudar porque você é íntegro e trabalhador. Acredito que a fórmula para a empresa dar certo é ter lideranças e pessoas que tenham dignidade e valores ao seu redor.

BA –  Planejar e delegar, qual o peso que essas duas premissas têm para o seu negócio?

PC – Depende. Qual o tamanho você quer ser? Se eu tenho uma empresa que eu mesmo faço todo o serviço, eu não preciso delegar tarefas. Mas, se quero que a minha empresa cresça, tenho que delegar e planejar e caso não faça isso irei quebrar. Portanto, vai depender do tamanho do negócio que quero gerir, da capacidade e elasticidade que tenho como empresário para conduzir o negócio. Somente precisa saber que para crescer irá enfrentar dificuldades.

BA –  Sobre a sucessão, como você lida na sua empresa? E com a sua experiência já colocada em prática com o seu filho Paulo Júnior, o que você recomenda para uma sucessão exitosa?

PC –  Começo dizendo que o Júnior é um talento, é um empreendedor. Júnior é um empresário que ele mesmo se fez, graças a Deus. Desde lá atrás, quando ele começou com o comércio de feijão, a ideia foi dele. Ele criou as empresas dele. Tem uma história interessante e muito criativa, em certo momento de sua vida, Júnior juntamente com o amigo Bruno, venderam espetinho de bode, em uma faculdade. A área de vendas dele é totalmente diferente da minha. Então, Júnior é um talento. Mas, você só pode fazer sucessão familiar se tiver algum filho que tenha talento e que também queira assumir a sucessão. Um amigo me abordou no shopping e falou: seu filho é muito melhor que você. Que orgulho maior para um pai ser abordado por alguém que diga: seu filho é muito melhor que você! Que maravilha que ele está sendo melhor do que eu. Portanto, não adianta querer fazer alguém sucessor sem que ele queira. A sucessão não é obrigatória, é somente uma questão de continuidade, porém, muitas vezes não acontece de o sucessor ter o talento para gerir os negócios de família.

BA –  Como você enxerga a responsabilidade social na vida de uma empresa?

PC – Quando ressalto da função social da empresa, denomino-me como um ativista e que essa função social também está inserida na nossa Constituição. Nós temos uma lei de Recuperação Judicial e a exposição de motivos desta lei é a base da nossa Carta Magna, é a base da nossa sociedade. Acredito que o empreendimento é a base essencial para o País existir, para o pagamento das receitas das nossas instituições públicas e para geração de emprego e renda, além de criar novas empresas. Essa consciência da importância da empresa temos que ter. Só vamos transformar nosso País quando tivermos essa consciência cidadã participativa transformadora. Não podemos mais aceitar uma classe empresarial míope e egoísta que continue a acreditar que o Brasil não tem jeito. Enganados, acreditam que apenas cuidando dos seus próprios umbigos vão resolver seus problemas. É preciso construir a real percepção quanto à necessidade imprescindível importância e necessidade da função social da pessoa jurídica como propulsora do crescimento econômico e social da nossa nação. E isso tem a ver com todos os cidadãos brasileiros, independentemente de integrar ou não esse conjunto de pessoas que, formalmente, compõem qualquer empresa.

BA –  O que significa para Paulo Cavalcanti as palavras: fé, amor, justiça, ética, solidariedade e honra?

PC – Não estudamos mais a questão moral e ética, a cidadania, não abrimos a Constituição no dia a dia. Nem através da história estamos conseguindo trazer esses valores. Você não pode pensar em uma sociedade que sofre desde lá detrás, sem ética, e onde a corrupção passe a ser uma máxima. E que o jovem pense que só vai ser alguma coisa sendo rico, com um carro bonito e aparecendo nas redes sociais. Não estou generalizando porque toda generalização é injusta. A pessoa precisa entender que ela, é o que é, e precisa valorizar o seu eu. Na justiça, estamos vivendo uma crise, hoje, verificamos que todos os dias a gente rasga a Constituição. E isso aí é real. Como é que você prende uma pessoa sem antes indiciá-la e a expõe na mídia. Hoje, temos inversões de valores terríveis. Temos sim, que estar atentos, cobrando tudo que é ilegal. Estamos passando por uma séria crise, valorizando polarizações que não interessam a ninguém. Volto à Constituição, em seu artigo 5º: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza…”.

BA –  Nas suas horas de lazer, você gosta de fazer o quê para relaxar?

PC – Em primeiro lugar, eu adoro estar com a minha família. Eu tenho, graças a Deus, uma família bastante harmoniosa e hoje tenho cinco netos. Antes, gostava muito de esportes, jet-ski e fazer trilhas de motocicleta, um momento que chamava de retrolavagem. Agora, com 64 anos, não tenho o mesmo preparo que tinha antes, mas tenho a vantagem de ter cinco netos. Se você me perguntar hoje: Paulo, onde você está retrolavando? Eu respondo: Gosto de estar com a minha mulher e me divertindo com os meus netos. Gosto também de tomar uma, isso me deixa relaxado, e também, de reunir com amigos. Conheço pessoas com o mesmo pensamento que eu, querendo salvar o mundo, se doar e contribuir por uma sociedade mais justa e transformadora. Estou vivendo um momento muito bom na minha vida, dando propósito à vida, significado, e correndo atrás de objetivos. Nunca pare. Minha mãe está com 93 anos e, até hoje, vai ao sítio, cuida das coisas dela, já o meu pai morreu muito cedo, aos 65 anos. Nós ainda somos muito novos e temos capacidade produtiva, estou muito feliz e orgulhoso com o trabalho que desenvolvo e o seu resultado. E as pessoas estão entendendo. É, sim, da minha conta. E, sim, posso fazer consciência cidadã, podemos transformar de maneira harmoniosa, contributiva, inclusive, suprapartidária, porque o que interessa é o País e o que está em nossa Constituição. Nós merecemos pelo nosso amor, pela nossa família, pelos nossos amigos e pelo nosso País. Não vamos desistir dele não. O Brasil ainda é o melhor País do mundo para ficarmos bem de vida, ganhar muito dinheiro e viver maravilhosamente bem.

BA – Você costuma ir ao supermercado?

PC – Sim, gosto muito de ir ao supermercado. Costumo pegar o carrinho e sair rodando todo o supermercado, fico olhando as prateleiras como estão arrumadas. E o supermercado tem evoluído bastante, ir ao supermercado para mim é um passeio, uma diversão.

BA –  Baseado em tudo que você relata em seu livro, qual a mensagem você passa para o seu leitor?

PC – É isso aí, precisamos acreditar nessa consciência cidadã participativa. É sim, uma nova filosofia de vida, é sim, uma nova forma de transformar o nosso País. Quem mais pode fazer pelo nosso País, somos nós. Nós que menos precisamos de educação pública e saúde pública. Somos capazes de gerar riqueza, empregos, renda e tributos. Mas vamos fazer mais do que isso, sei que é difícil, às vezes não temos nem tempo, mas precisamos ceder um pouco deste tempo para resolver os problemas de nosso País. Acredite. E não deixe de vir para a Associação Comercial da Bahia. Não tem tempo, eu tenho! Acredite em mim e delegue-me que vamos com a consciência participativa transformadora salvar esse País. Pau na máquina.

 

Paulo Sérgio França Cavalcanti, o filho,  assim define seu pai

“Para falar de meu pai Paulo Cavalcanti, vou me apoiar em uma expressão: ‘self-made man’, que significa ‘o homem que é feito por si mesmo’, aquele que não dispõe de quaisquer outros recursos que não seja sua própria força de trabalho e, mesmo assim, ele realiza as coisas, constrói patrimônio, relações e ideias. É assim que um grande amigo de meu pai o define.

Decerto que ele não constrói tudo sozinho, mas é a força motriz das suas ideias, das soluções encontradas, dos negócios erguidos, das dificuldades superadas que o fizeram ser referência para todos que o conhecem.

Ele é um daqueles caras que comprovam que se você for sincero e desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo.

Ele não conta com a sorte. Pelo contrário, acredita que não podemos dar oporunidade alguma para o azar. Sempre soube da importância de se cercar de pessoas boas, honestas e competentes, e se sente responsável pela felicidade delas.

Agregou profissionais de ponta às suas equipes  e os manteve por perto. Sempre exigiu 100% de todos e 150% dele mesmo. Quem convive com meu pai sabe que tem alguém com quem conversar, com quem contar. Desde o menor problema, a algo muito sério, ele está sempre apto a ajudar.

Ele é como um corrimão de escada: você não precisa andar segurando nele, no entanto, se você tropeçar, sabe que o corrimão estará do seu lado, para te dar apoio”. Paulo Sérgio França Cavalcanti.

Essas e outras passagens são encontradas no livro escrito por Paulo Cavalcanti, “E aí? Isso é da minha conta?