André Fidalgo
“A Desenbahia promove o desenvolvimento econômico e social da Bahia, facilitando o acesso ao crédito para diversos setores e agentes da economia”
Em entrevista ao programa Fala Benneh e à Super Revista, o superintendente da Desenbahia, André Fidalgo, falou das atribuições da instituição, que é uma agência de fomento do governo do Estado e tem como atribuições oferecer empréstimos a empresas, municípios, produtores rurais e pessoas físicas, gerando recursos técnicos e financeiros para impulsionar o desenvolvimento sustentável da Bahia e melhorar a qualidade de vida da população.
Entre suas principais atividades estão o oferecimento de linhas de crédito para capital de giro e investimento fixo para micro, pequenas e médias empresas; Programa de microcrédito para Microempreendedores Individuais (MEI) e empreendedores informais (Credibahia); Financiamento para produtores rurais (pessoas físicas e jurídicas) e cooperativas de produtores rurais para atividades agropecuárias, aquisição de máquinas e equipamentos, e projetos de investimento; e Financiamento para Municípios, dando crédito para prefeituras na aquisição de máquinas e equipamentos que contribuam para a geração de emprego e renda.
Em resumo, André explicou que a Desenbahia atua como um importante instrumento do Governo do Estado para promover o desenvolvimento econômico e social da Bahia, facilitando o acesso ao crédito para diversos setores e agentes da economia.
Super Revista – André, quais os propósitos da Desenbahia?
André Fidalgo – Bom, primeiro agradecer a oportunidade de estar aqui falando com você, Benneh Amorin. Acho que sempre é importante que a gente fomente a informação também. Quanto mais informamos, as pessoas têm dúvidas, e a gente informa de novo. A Desenbahia é uma agência de fomento, não é um banco. Isso tem alguma mudança estratégica para os nossos clientes? Claro, porque nós não visamos o lucro. Diferente de outras instituições financeiras bancarizadas, que precisam ter produtos como conta corrente, capitalização, seguros, nós não temos nada disso. Quando o cliente vem até a Desenbahia e fecha uma linha de capital de giro, compra de equipamento, qualquer linha que temos no nosso portfolio, colocamos o recurso na conta bancária que o cliente nos apresenta. Ele não precisa ter novos gastos com tarifa, com manutenção de conta. Essa é a primeira observação. A outra é que a nossa função social e objetivo social é fomentar e desenvolver a economia no Estado da Bahia. Atuamos em vários setores, indústria, comércio, serviço. Financiamos também para os municípios. Temos linha de financiamento para energia fotovoltaica, para infraestrutura, para compra de equipamentos. Atendemos pessoas físicas de produtores rurais. Temos programas diferenciados, como o Protáxi, e como o Credibahia, que é em parceria com a CETRI, que atende os microempreendedores individuais, aqueles formalizados e não formalizados, já através de cada um dos seus municípios. São várias linhas, é um portfolio grande de produtos. Estamos entre a terceira e a quarta maior agência de fomento do Brasil e nós somos uma das que possui maior quantidade de produtos, porque as outras duas agências de fomento que estão à frente, que é a Desenvolve São Paulo e a Fomento Paraná, muito mais novas que a Desenbahia. Elas ganham com relação ao patrimônio porque é maior. São economias mais bem desenvolvidas e estados mais industrializados que fazem também com que todas as entidades que envolvem a economia se desenvolvam mais. Mas, a Desenbahia, tem produtos e linhas para praticamente todos os setores.
SR – A Desenbahia também é uma repassadora de recursos, por exemplo, do BNDES?
AF – Perfeito. Na verdade, a Desenbahia trabalha com vários fundings (financiamentos), que é o termo específico. Trabalhamos com o nosso próprio recurso com linhas de crédito e com recursos do BNDES. Existem linhas de financiamento para compra de equipamentos. A população no Oeste, que trabalha muito com a questão agrícola, oferecemos linhas que são bem específicas do BNDES. Também, obviamente, repassamos recursos do Ministério do Turismo, trabalhamos com a nossa linha própria, e com a linha do Fundese (Fundo de Desenvolvimento Social do Estado), somos o gestor desse fundo. Tem algumas linhas que o governo do Estado tem interesse em fomentar, e temos uma atenção específica, como o microcrédito, por exemplo, com o Protáxi, a gente atua utilizando o recurso que está no fundo do Estado de Desenvolvimento Econômico.
SR – Não só os grandes projetos que existem na Bahia, mas os médios e pequenos também podem se beneficiar dessas linhas de crédito da Desenbahia?
AF – Perfeitamente. Na verdade, a Desenbahia já tem uma expertise grande em Parcerias Públicas Privadas – PPPs. Por exemplo, aqui em Salvador, o Hospital do Subúrbio, que foi uma grande PPP, ganhou prêmios internacionais, inclusive, o Instituto Couto Maia, são PPPs na área de saúde. Participamos também da Arena Fonte Nova, entre 2013 a 2015. Financiamos infraestrutura rodoviária, a BA-052, a famosa Estrada do Feijão. Inclusive, a ponte que liga Xique-Xique e a Barra. Nós financiamos essa estrada. Temos uma expertise em vários modelos. A ponte Salvador-Itaparica, que foi elemento de entrevista da Super Revista com o secretário do Desenvolvimento Econômico, todos os estudos iniciais foram feitos pela Desenbahia, através da superintendência de projetos especiais. Iniciamos mais ou menos em 2014 e 2015 e todos os estudos que envolviam a engenharia náutica e fundações passaram pela Desenbahia. Investimos mais de R$ 100 milhões nos estudos iniciais, que buscavam justamente a viabilidade da ponte. Temos linhas de financiamento que têm relação com PPPs. Linhas de financiamento que atingem pessoas físicas, produtores rurais, através do CrediBahia. E temos linhas de financiamento, efetivamente, para pessoas jurídicas e financiamos também os municípios. Temos uma carteira de mais de 60 municípios, uma carteira que gera em torno de R$ 70 a R$ 80 milhões. Estive recente com o prefeito de Buritirama (BA), e é algo de um exercício que a gente faz cotidianamente, oferecer não só a questão do crédito para o município, comprar máquinas, desenvolver a parte de infraestrutura, desenvolvimento urbano, calçamento, pavimentação, construção de escolas, de creche, a Desenbahia auxilia no debate sobre a questão do desenvolvimento econômico. Eu tenho feito várias palestras pelo interior do Estado, falando sobre empreendedorismo e da percepção que os empresários têm que ter de que o crédito precisa ser responsável.
SR – Ou seja, precisa ter uma educação financeira?
AF – Exatamente. Se a gente fornece um crédito a um empresário que precisa do recurso, mas ele não entendeu que, na verdade, o problema dele não é o recurso. O problema dele é que o seu negócio entrou um player novo. Cito o exemplo de um município que estava trabalhando: Você tem um restaurante, e de uma hora para outra aparece uma outra pessoa com um restaurante perto de você, com ar-condicionado e o seu não tem, com a comida melhor que a sua e mais barata. Não sei o que ele fez, mas o negócio dele está para além da sua possibilidade de intervenção. Se você acha que pegar 50, 60, 80, 100 mil reais e colocar no caixa da sua empresa, vai resolver o problema, não vai. Porque isso não vai fazer a sua comida melhorar ou seus custos diminuírem. Na verdade, o empresário, antes de pegar o recurso, tem que fazer uma reflexão sobre o que é que ele precisa fazer. E o recurso tem que entrar em uma perspectiva de ampliar a receita.
SR – E isso que é muito importante, porque às vezes, as pessoas não fazem um planejamento, não fazem um estudo de viabilidade econômica, e vai ter esse recurso na mão e depois ter dificuldade em honrar e a sua vida vai se transformar em um inferno depois.
AF – Exatamente. Por isso é importante que se faça um estudo de viabilidade econômica para não acabar ficando com o nome negativo, e fechar todas as portas. Os fornecedores não vão vender mais a prazo para ele, e ele vai ter que entrar em uma situação delicada para conseguir recurso onde ninguém mais vais emprestar. Portanto, são duas coisas importantes. Primeiro, que o empresário procure a agência de fomento para capitalizar o seu negócio e buscar o diferencial, e também que ele tenha capacidade de refletir sobre o melhor momento, o que é que ele tem que fazer, o que é que está acontecendo para ele não ser um player do jogo atual e não ser um jogador competitivo. Existem várias entidades que ajudam a Desenbahia também nesse processo: As CDLs, a Associação Comercial, a Federação da Associação Comercial, o Sebrae, e independentemente do tamanho, a Fieb, que são parceiros importantes da economia do Estado.
SR – Quer dizer que, além da Desenbahia fazer todo esse trabalho de fomento, de empréstimo, de crédito, tem essa conscientização e essa parceria com essas entidades. Não é isso?
AF – Exatamente. A gente não tem uma área que cuida da educação empresarial. Mas fazemos um alerta. Na verdade, as entidades que possuem condições de fazer esse debate, efetivamente, é do Sistema S, sobretudo o Sebrae e a Fieb. As CDLs e as Associações Comerciais que conseguem também exatamente fazer esse debate de orientação. Agora, é uma realidade. Muitos empresários ainda não conseguem entender o que é um fluxo de caixa, o que é capital de giro, e isso é algo que temos de fornecer, porque às vezes a ideia é muito boa e os empresários são, por essência, muito corajosos. Porque nós temos um regime tributário que nem sempre consegue se encaixar no valor do custo do produto, o próprio termo precificação. Você precisa precificar o seu produto, o seu serviço, para que todos os custos que estão envolvidos ali, os diretos e os indiretos, sejam contemplados, inclusive, o retorno do seu capital que você colocou. Esse é um debate que tem que ser feito. Mas não cabe a gente fazer esse debate, mas não nos furtamos de participar. Sempre que a Desenbahia é convidada a dialogar sobre o assunto, inclusive eu, os diretores, o presidente, sempre vamos. Somos em 200 funcionários. A agência de fomento é muito enxuta, o que faz com que a gente consiga ofertar um crédito, um custo muito justo, porque investimos, isso é muito importante. O valor que recebemos não visa o lucro. A Desenbahia retorna esse recurso com treinamento de pessoal, sistemas de controle, de compliance e equipamentos. A Desenbahia não distribui lucro, porque nós somos uma empresa pública do governo do Estado. 99% das ações da Desenbahia são do governo do Estado. É o governo do Estado que indica o Conselho de Administração dos diretores. O foco da Desenbahia é retornar todo o investimento que vem para a agência para a economia. Agora, óbvio, é um recurso público e precisa ser devolvido, não é o dinheiro a fundo perdido. Eu estou emprestando e preciso que esse recurso volte para que ele possa ser emprestado para outra pessoa. Nossa missão é essa. Estou aqui desde 2013, já estive na chefia de gabinete, estou na superintendência, fizemos 3, 4, 5 projetos de requalificação do ponto de vista operacional e a Desenbahia hoje é muito ágil, tem produtos muito vantajosos e faz frente à competitividade aos nossos grandes irmãos públicos e privados.
SR – O que é necessário para você se candidatar a um crédito da Desenbahia, tanto pequeno como médio, mas para o pequeno principalmente.
AF – Perfeito. Simplesmente eu preciso conferir se a empresa, que é o solicitante, se tem condição de pagar e tem condição de se endividar. Primeiro ponto: Se você tem condição de pagar e de se endividar, você está apto a pleitear recurso com a Desenbahia. Não pode ter o nome com restrição, isso é uma regra do Banco Central. A agência não consegue emprestar recurso para ninguém que tenha o nome com restrição, seja pessoa física, através de ser sócio de uma pessoa jurídica ou pessoa jurídica mesmo. E como é que a gente faz essa conta? A gente considera o valor que a empresa fatura por ano e um percentual daquele valor é o máximo que ela pode se endividar. Então, vamos utilizar um valor de R$ 10 mil por mês: Uma empresa que fatura R$ 120 mil por ano, ela só pode se endividar em até no máximo 50% do que fatura. Ou seja, ela só pode se endividar em R$ 60 mil. Se ela já tem uma dívida de R$ 20 mil com outra instituição financeira, ela só pode se endividar em R$ 40 mil. É o máximo que eu posso permitir que ela se endivide, na tentativa de não a contaminar e acabar o negócio.
SR – É aquela mesma conversa que a gente teve anteriormente sobre educação financeira?
AF – Exatamente. Eu só posso emprestar até 50%. Se você tem um comprometimento de 50%, eu só posso emprestar 25%. Isso é uma questão de endividamento.
SR – André, e o pagamento. Como seria?
AF – Eu considero que os R$ 10 mil que você vai faturar por mês só pode ter um comprometimento de no máximo 20%. Se você tem um comprometimento de R$ 10 mil, seria R$ 2 mil. Se você irá pagar mil em seu compromisso, você só pode pagar mil para agência. Eu posso lhe emprestar até no máximo R$ 40 mil, mas só pode pagar mil. Numa linha de financiamento, que é de capital de giro, que são 36 meses para pagar (seis meses de carência mais 30). Uma parcela de no máximo mil, quanto é que eu posso lhe emprestar? Talvez não seja 40, talvez seja 35. Uma coisa limita a outra. Às vezes a empresa tem liquidez, mas tem um endividamento muito alto. Às vezes ela não tem endividamento nenhum, mas a liquidez dela está apertada. Quando pego o demonstrativo, percebo que ela tem dificuldade. Ela tem compromissos com fornecedores, dívidas tributárias que ela já parcelou, que comprometem mais do que 20% da parcela dela por mês. Eu não tenho como emprestar. Mas isso é uma matriz de crédito que passa muito rapidamente. Essas são as condições. Ou seja, todo mundo pessoa jurídica pode pleitear.
SR – E pessoa física, como é que funciona?
AF – A Pessoa física, a agência empresta recurso através de um programa que é o Credibahia, que é um programa que temos em parceria com a Setre (Secretaria de Trabalho, Emprego, Renda e Esporte), com o Sebrae e com os municípios. É uma linha que tem todos esses atores funcionando. Abrimos um posto do Credibahia no município e esse município cede o espaço, os funcionários e as máquinas. Instalamos o nosso programa lá e disponibilizamos o recurso. Os agentes de crédito que vão na feira, que vão nos mercados ofertar esse crédito são funcionários da prefeitura. O Sebrae dá o treinamento e a Setre monitora. E assim temos uma linha de financiamento que o governador Jerônimo Rodrigues determinou que criássemos com uma condição melhor para as mulheres, para que elas pudessem empreender. Uma sensibilidade muito diferenciada do governador, que percebeu, obviamente, uma de tantas violências que as mulheres sofrem: a violência patrimonial, uma das que mais aflige as mulheres. Muitas vezes elas ficam com os agressores dentro de casa porque elas não têm alternativa de sustentar a casa e os filhos. Permitimos que as mulheres possam ter liberdade de tomar decisões da sua própria vida. É uma linha que envolve crédito, mas que envolve dignidade também. Como bem disse o vice-governador Geraldo Júnior, em evento no bairro da Paz, que a linha de crédito disponível para as mulheres é dignidade também para que possa permitir que elas escolham o caminho de sua vida. E essa linha voltada para a mulher concede para ela chegar e pegar de empréstimo R$ 6 mil. Tem uma taxa de juros de 1,8 ao mês e tem 18 meses para pagar com 6 meses de carência. Ela acabou de pagar, ela volta e pode pegar R$ 12 mil. Depois ela volta, pega R$ 18 mil. E depois pega R$ 21 mil, que é o teto do programa. O homem é mais ou menos semelhante a isso. A taxa de juros do homem é 2% ao mês, no mesmo período de pagamento, mas ele alcança primeiro R$ 5 mil, depois R$ 10 mil, R$ 15 mil e R$ 21 mil. É quase a mesma coisa, só que a mulher tem a possibilidade de pagar um pouco menos e consegue pegar um recurso um pouco maior. Essa é uma linha de crédito para microempreendedor individual, para quem tem MEI. É uma linha que fomenta diretamente as pessoas que muitas vezes ficam na prefeitura, no município, querendo emprego. Às vezes não tem emprego, por isso é preciso fomentar o empreendedorismo. E a ideia é que depois vai avançando. O ciclo econômico no Estado, ele precisa que você tenha iniciativas em todas as instâncias. Esperamos que as pequenas empresas virem médias, que as médias virem grandes, que os microempreendedores individuais virem microempresas e depois pequenas empresas. Esse é um ciclo virtuoso mesmo. Não aquele da década de 50. E a Bahia tem se esforçado em fazer isso. Se você for fazer um histórico, de 2007 para cá, o orçamento do Estado cresceu muito. Quando ganhamos o governo do Estado, eram 17 milhões, em 2007. Hoje, temos um orçamento de 70 milhões. Não foi de uma hora para outra. Foi muito esforço do governo do Estado, dos governadores todos que passaram, no sentido de incentivar que as indústrias venham, que desenvolvam polos produtivos em cada um desses territórios e trabalhar as riquezas minerais, as riquezas turísticas, todas as suas particularidades nos territórios.
SR – Essa questão mesmo do pequeno e médio empresário, aí entra a economia criativa, em que eles têm uma série de habilidades que podem ser fomentadas através destes incentivos.
AF – Exatamente. A economia criativa é fundamental para que possamos desenvolver. Em uma entrevista, disse que a comemoração do dia 1º de maio, Dia do Trabalhador, não é uma comemoração feita do mesmo jeito que era há 10 anos. Na verdade, todo empreendedor é trabalhador, mas nem todo trabalhador é empreendedor. Tem muito trabalhador que tem uma agenda perversa de que é empreendedor, e não é. Porque tem uma jornada de 17, de 18, de 20 horas e soa de que ele é empreendedor. Ele não é empreendedor. Ele é um trabalhador que muitas vezes, está amparado das garantias que a CLT permite, que são as garantias conquistadas há muito tempo, há 90, 100 anos. A economia precisa de atenção, cuidado e insistência, porque abrimos uma porta e fechamos a outra. A Ford foi embora em 2021 para 2022 e permitiu que uma das maiores empresas, uma das maiores montadoras de carros elétricos do mundo viesse para cá. Então, veja que percepção. Saímos de um elemento em que trata um veículo de combustão, de um combustível fóssil que polui, para uma indústria que viabiliza veículos movidos à energia elétrica. Ao mesmo tempo tem a ampliação do parque eólico, um dos maiores, a Bahia é uma das referências de ventos. A gente tem o maior parque, um dos maiores potenciais eólicos do Nordeste e do Brasil. Tenho essa sensação de que estamos fazendo. A Desenbahia está em todos os lugares: Nós não conseguimos financiar a ponte Salvador-Itaparica, mas conseguimos financiar os estudos. Por exemplo, a Desenbahia não consegue financiar a BYD Brasil? Não, não consegue. Mas conseguimos financiar as empresas que estão ao redor da BYD. Tive a oportunidade de participar de um evento em Pojuca (BA) e a Petrobras vai investir R$ 5 bilhões naqueles campos, de São Sebastião do Passé até Esplanada. Eles vão investir R$ 5 bilhões no trecho em que se empregam mais de 11 mil pessoas. As pessoas passam pela frente das refinarias onde ficam os poços e acham que estão parados, que não tem nada. Quando, na verdade, ali está sendo extraído gás. A Desenbahia não tem condição de financiar a Petrobras, nem a Petro Recôncavo. Nós não temos como financiar porque são riscos muito altos para o tamanho da Desenbahia. Mas nós podemos financiar as empresas que alugam carros, as empresas que vendem EPIs, que têm os equipamentos e que também vendem as peças para os caminhões. Esse é o papel da Desenbahia. O governador Jerônimo Rodrigues tem insistido muito conosco de que precisamos participar intensamente dos debates nos territórios. Temos feito esse esforço combinado com a diretoria e com o presidente Paulo Costa, em continuar fazendo os debates sobre empreendedorismo, empreendedorismo feminino e auxiliando que as pessoas possam refletir sobre o papel das empresas e dos empreendedores dentro da economia local.
SR – Quanto tempo demora para liberar esse recurso?
AF – Depende muito do volume que se quer. Eu sempre digo isso. O custo do recurso está relacionado ao risco do negócio, apesar de sermos uma agência de fomento do Estado. Na verdade, a gente precisa respeitar algumas regras de compliance do Banco Central. Do mesmo jeito que a gente não pode emprestar recurso para quem está com o nome em restrição, a gente precisa fazer algumas contas porque, inclusive, o Sistema Financeiro Nacional, é o mais evoluído do mundo. Eu faço sempre questão de mencionar isso. Hoje em dia, temos o PIX como algo que parece que já tem 10 anos. Se você for na Inglaterra ou na Espanha, terá que fazer um TED, ir lá na agência fazer, assinar um documento e esperar dois dias para fazer. É desse jeito. E aqui no Brasil já está com o PIX que parece que sempre trabalhamos com ele. Temos um sistema financeiro muito comprometido e que nos dá segurança. Ora, o que acontece? O fato é que não consigo simplesmente deixar de mitigar o risco. Eu controlo isso. Então, dependendo do volume que a empresa quer, dependendo do volume que ela pode querer e isso me requer ter um pouco mais de cuidado. Se vejo uma empresa que pode fazer um empréstimo, na sua capacidade de endividamento e de pagamento, R$ 250 mil, que é o máximo que a Desenbahia empresta com aval, ou seja, sem garantia real, ela pode pegar R$ 250 mil e ela quer R$ 250 mil. A Desenbahia vai emprestar. Mas a Desenbahia vai pedir para o gerente de negócio ir olhar o estabelecimento, para verificar se o restaurante está no lugar, se funciona bem, porque no papel, nem sempre as coisas são exatamente como é na vida real. Agora, se uma empresa pode fazer um empréstimo de R$ 500 mil e quer apenas R$ 100 mil, o risco está diminuído, porque o valor irá diminuir muito. Isso pode variar de 15, de 20, de 30, de 35 dias, mas não é um tempo muito longo. Às vezes, a gente precisa apenas ter o tempo de o gerente de negócio visitar o espaço, conversar com o empresário e pegar a sua impressão também, porque será importante colocar no sistema e informar que o gerente de negócio foi lá e viu o negócio funcionando. Além da documentação toda que é comprovada com a visita, para que não soframos qualquer dissabor de ser feito com uma rapidez muito grande, porque se acontece isso é um prejuízo que acarreta para a sociedade. Se a Desenbahia, que tem uma linha vantajosa do ponto de vista de taxa, 20% ao ano, mais ou menos, Selic mais 4, mais 4,5 e vai dar 1,68% ao mês. É uma linha muito competitiva. E de repente, você simplesmente fecha essa linha, coloca para ser mais cara ou diminui o valor que pode capitar e diminuir o prazo, isso vai responder na sociedade na economia. Precisamos ter responsabilidade e é por isso que a Desenbahia tem um cuidado muito grande em aceitar o risco para não prejudicar a nossa política de financiamento para as empresas. O governo quer que a Desenbahia incentive e a Desenbahia está preparada para sempre responder o que o governo determina, mas precisamos também seguir uma maneira responsável para que você não precise reformular toda a nossa política de financiamento.
SR – Para o setor supermercadista, que a gente faz parte, principalmente os pequenos, como é que eles podem usufruir disso?
AF – Eu penso que a linha que temos hoje, vamos dizer que é o nosso carro-chefe, que é a linha de capital de giro. Essa é a linha que abrange praticamente todas as empresas e todas elas precisam de capital de giro. É um tema que está diversificado. Entre tudo que existe na internet e tudo aquilo que existe no buscador tem muita informação positiva e muita informação que não serve para nada. Então, pode ser um supermercado, pode ser uma clínica, pode ser um posto de gasolina, pode ser uma empresa de serviço de estética, uma empresa que trabalhe com exames de imagem, tem muitas empresas que atuamos, a exemplo dos laboratórios, enfim, é uma infinidade de empresas que se fôssemos olhar as linhas tradicionais, não poderia fazer, porém, de capital de giro podemos. É claro, às vezes a expectativa que a empresa tem não é a expectativa que conseguimos fornecer com segurança, porque como a Desenbahia não visa o lucro e tem uma responsabilidade social que outros atores, do ponto de vista de instituição financeira bancarizada não possuem, estamos falando das empresas privadas. Já as empresas públicas também têm compromisso social, mas tem outro perfil de trabalhar. Portanto, temos muito cuidado com isso, especificamente sobre os atacadistas, estamos falando de um segmento de um volume de recurso muito alto, de investimento muito alto, são grandes corporações, essas de fato talvez precisem buscar outras instituições mais robustas, para que possam alcançar linhas de crédito que atinjam milhares de reais. No nosso caso é um segmento menor, um pouco abaixo, como se fossem mercados, pequenos mercados, essas empresas podem estar em qualquer lugar do Estado: Juazeiro, Serrinha, Coité, Teixeira de Freitas ou em Buritirama, em qualquer lugar, não fazemos divergência com relação aos municípios. Se for trabalhar um projeto que tem que ter mais paciência, a exemplo de verificar as licenças, se o projeto está dentro de um escopo da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado. Naturalmente, que o projeto precisa de um pouco mais de paciência, porque é preciso olhar o projeto arquitetônico, o projeto estrutural de viabilidade e se há viabilidade econômica. Se é um negócio que já existe, já é uma coisa boa; se quer abrir uma indústria, tem que apresentar todo o plano de abertura e demonstrar porque que dará certo e se vai funcionar e qual é o risco de não dar certo, temos que avaliar esse risco. Isso requer também uma análise que pode levar um pouco mais de tempo, mas de certa forma, para esse segmento que estamos tratando aqui, sempre precisamos ter uma condição para conversarmos. É muito importante que os setores, através das suas associações de classe e, neste caso, estamos falando de uma associação que é bem classista porque defende muitos interesses independentemente do segmento. Elas precisam procurar o diretor de negócio da Desenbahia, Agenor Martinelli, para que possamos dialogar sobre as maneiras e quem sabe influenciar em novas linhas de crédito e em novas condições.
SR – Quanto de recursos foi aplicado no ano passado?
AF – Batemos um recorde. A gente emprestou mais de R$ 300 milhões e já tinha muito tempo que a gente não emprestava. Isso foi fruto de um trabalho de toda a equipe da Desenbahia, a parte de prospecção, de cadastro e de análise e também da diretoria do Conselho de Administração, que sensível a uma determinação do governador, de que podemos apoiar em larga escala a economia, nos ajudou contribuindo com as discussões e, acredito, que podemos sempre fazer mais.
SR – Em 2025, você acha que vai recuperar essa meta?
AF – A nossa expectativa é que consigamos fazer isso, estamos trabalhando muito na questão dos municípios porque no passado teve as eleições, e isso atrapalhava um pouco o nosso trabalho. Esse ano estamos indo com muito apoio e a UPB (União de Apoio da Bahia) também renovou agora o seu quadro e está com uma nova diretoria e temos dialogado com a área técnica o corpo diretivo. A nossa expectativa é que consigamos bater essa meta ou chegar bem perto disso.
SR – O time da Desenbahia, liderado pelo presidente Paulo Costa, está à disposição do empresariado e das entidades para poder fazer o melhor para as empresas e para a sociedade?
AF – Perfeito. Acho que a gente precisa considerar de que há contribuição a ser dada, a gente contribui e o presidente tem feito essa fala insistentemente nas reuniões e nos eventos com o corpo funcional. Nós somos uma empresa enxuta, temos 200 funcionários apenas, conseguimos fazer uma movimentação econômica que a proporção de outras instituições financeiras e estamos bem avançadas porque conseguimos atender a demanda do governo, a exemplo de uma linha que o governador anunciou a cerca de três semanas: uma linha para mototaxistas e motofretistas e está esperando há mais de 10 anos para ser lançada. A Desenbahia precisou fazer um diálogo envolvendo a Setre, a Fundação Eduardo Magalhães, o Detran e o Cesc Senai, todos nós em torno de uma linha que pudesse ser favorável e trouxesse dignidade para uma classe que efetivamente precisou carregar nas costas a pandemia, que são os mototaxistas e os motofretistas. Eles levaram remédio e comida de lá para cá, tomando chuva e tomando sol e muitas vezes nenhuma garantia trabalhista de nada, malmente tem a moto que às vezes é financiada no nome do sogro ou do irmão e, que se quebra, não tem condição de levar o sustento para a família. Neste caso, podemos dialogar cada vez mais e as entidades de classe precisam procurar a Desenbahia para que possam dialogar e dizer: “Olha isso aqui vamos amadurecer’. Essa linha demorou muito tempo para amadurecer porque tinha o seguro que é obrigatório e não encaixava no valor, como outras linhas que não conseguimos fazer, como por exemplo, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar): Para um pequeno produtor rural não conseguimos porque ele tem que ter assistência técnica e o valor no mês vai ficar inviável.
SR – Qual é a mensagem que você passa não só para o setor empresarial, mas também para setor público – os municípios e os prefeitos – para fazer essa parceria com a Desenbahia?
AF – Do ponto de vista empresarial, quero dizer que a Desenbahia está disponível para dialogar e para oferecer crédito e trazer soluções. Nós não emprestamos recurso, nós entregamos soluções financeiras. A pessoa diz: “Quais são as linhas que você tem?” Não se preocupe. O que é que você precisa? Eu preciso disso. Deixa comigo que eu vou trabalhar para lhe dar a melhor linha que eu tenho com o melhor custo. Queremos que o empresário se sinta confortável em nos procurar, temos nove gerentes de negócio: um, em Salvador e Região Metropolitana, e os outros espalhados por todo o Estado. O site da Desenbahia que é www.desembahia.ba.gov.br tem nossa política de patrocínio e de financiamento com todas as linhas de financiamento para o público interessado tomar conhecimento. Acredito que falta no gestor público a capacidade de entender e perceber isso. Eu, como superintendente da Desenbahia, tenho realizado várias viagens pelos municípios dialogando não só especificamente sobre a linha de crédito, mas também sobre outras melhorias para o município. Chama o território, chama o consórcio para dialogar, o que é que o consórcio pode trabalhar. Tem um número de prefeitos, dos 417 da Bahia, que estão evoluindo no que tange essa percepção do diálogo e que tem uma outra visão sobre a economia, já entenderam que não podem ficar simplesmente cuidando de recolher o lixo, trocar as lâmpadas da rua e pagar o funcionário em dia, que só isso não é suficiente. O gestor precisa fazer com que as pessoas tenham uma maior expectativa de vida. Portanto, faço o convite aos gestores municipais que nos procurem na Desenbahia, temos linhas de crédito para o município e para fomentar a economia do município.