Racismo: Afroparceiros aposta na educação para conscientizar empresas a lidarem com questões racistas
“Vivemos em uma sociedade excludente e extremamente racista! Quando a gente abre uma empresa com o CNPJ afrocentrado perdemos grandes possibilidades de negócios”, relatou Sérgio Carvalho, CEO da Afroparceiros Produções Culturais. Segundo ele, a Afroparceiros se propõe a promover programas de conscientização, através de palestras e outras ações para que funcionários e profissionais de diversas áreas saibam lidar com questões de cunho racial.
Conforme Sérgio Carvalho, a Afroparceiros já nasce num processo de um dito popular que é ‘A dor e a delícia de sermos quem somos’, frase também cantada na canção ‘Dom de Iludir’, de Caetano Veloso, “Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Ele explicou que quando a empresa escolhe um nome afrocentrado, já vem para um embate sistemático para com um mercado extremamente excludente e dotado de inúmeros preconceitos oriundos das mazelas sociais. “Quando registramos o CNPJ de uma empresa com o nome afrocentrado, perdemos muitas possibilidades de negócio. Mas, fazemos o enfrentamento sabendo que essas perdas na verdade são ganhos, porque vamos estar perto e fazendo negócios com pessoas que são desprovidas de preconceitos e combatentes das discriminações quotidianas, tal como os princípios da nossa empresa”.
Sobre a procura de parceiros, a exemplo da Super Revista que tem uma relação direta com o setor supermercadista, Sérgio Carvalho disse: “Procuro parceiros porque entendo que quando você faz uma análise de pré-julgamento do que está acontecendo ao seu redor, você não pode somente chegar e dizer: nós precisamos boicotar, precisamos criticar e denunciar. Acredito que esse tempo já passou e o sistema jurídico precisa acolher, provocando dor onde o sistema mais sente que é no bolso. O empresariado muitas vezes é desprovido de uma preocupação com o social, preocupando-se apenas com os resultados pelos quais são treinados, moldados e condicionados a perseguirem, deixando de lado toda e quaisquer sensibilidade, priorizando em caráter de exclusividade apenas as analises estatísticas, anulando assim a possibilidade de avaliar tudo que está ao seu redor”.
Segundo Sérgio Carvalho, a Afroparceiros surge com um projeto de educação antirracista porque imagina que não dá mais para que todas as vezes que a comunidade negra for a um supermercado, uma farmácia ou qualquer estabelecimento comercial, tenha que conviver com a possibilidade de agressão, prisão arbitrária ou até mesmo de ter a vida ceifada porque seguimos vivendo dentro de uma sociedade racista, que não aceita que os tempos são outros. Ou seja, “dentro dessa temática acredito que não cabe a mim só me tornar uma pessoa que denuncia fatos racistas, mas sim, que temos que apresentar uma possibilidade de transformação social dentro dos nossos princípios e valores. E, assim, surge o projeto intitulado ‘Desconstrução do perfil padrão de suspeito’ que tem como objetivo levar uma maior conscientização para dentro dos grupos corporativos”.
Disse ainda Sérgio Carvalho, que o projeto da Afroparceiros apresenta como uma alternativa de solução ou tentativa de amenizar esses fatos, uma formação não somente para desconstruir o pensamento colonial de quem está na parte baixa da pirâmide, mas acima de tudo trazer conscientização para quem está acima também. “Se o CEO se relaciona bem com a sociedade, se tem um estabelecimento comercial periférico, que majoritariamente essa periferia é ocupada pela população afrodescendente, e se ele entende que combater mazelas sociais e investir em educação, formação e qualificação pode ser uma maneira inteligente e transformadora de se aproximar de seu público criando um respeito e uma integração real entre eles e as pessoas, que são os fomentadores de sua receita”.
A Afroparceiros é uma produtora cultural afrocentrada com foco em vendas de palestras, gestão de projetos culturais, produção de roteiros audiovisuais, leis de inventivo e realização de eventos corporativos.