Ademar Pinheiro Lemos Júnior: Empresário baiano que conquistou o Brasil vendendo refeições
De empresário do ramo de refeições a ex-presidente do Esporte Clube Vitória, Ademar Pinheiro Lemos Júnior é um homem que não cansa de trabalhar. Hoje à frente da Lemos Passos, uma empresa familiar e genuinamente baiana, que completa 62 anos de atividade em outubro, é a quarta empresa no Brasil no Ranking da Aberc (Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas). De acordo com Ademar Lemos, ele é uma pessoa que gosta de viver desafios: “Ainda precisamos crescer muito, mas já conseguimos realmente colocar a Lemos Passos na história no nosso segmento”. Segundo Ademar Lemos, são servidas pela Lemos Passos aproximadamente 400 mil refeições por dia e nove milhões por mês.
Benneh Amorin – O senhor credita que essa harmonia no ambiente de Trabalho é um dos ingredientes que fez a felicidade bater à porta de sua família?
Ademar Lemos – Independente de qualquer coisa, isso deveria ser comum em todos os locais. Aqui na Lemos Passos ainda é mais intensificado porque nós vivemos e trabalhamos com mão de obra intensiva. São 3. 600 trabalhadores no Brasil, distribuídos em 12 estados, o que é fundamental para que o nosso produto seja desenvolvido. Então, esse clima entre todos tem que ser primordial para que as coisas aconteçam e o sucesso venha.
BA – Quais os legados que o seu Adhemar e dona Celita deixaram para o senhor?
AL – Os melhores possíveis. A empresa foi criada pelo meu pai e, agora em outubro, faz 62 anos sendo a mesma empresa. Logo depois, os filhos assumiram e teve um crescimento mais exponencial. Mas a base toda que herdamos tanto empresarial como também a de bom caráter, se deve ao que o meu pai e minha mãe passaram não só para mim como também para todos os filhos.
BA – Quem é o homem Ademar Pinheiro Lemos Júnior?
AL – Eu sou uma pessoa que vivo de desafios. Desde estudante no secundário no Colégio Marista já me envolvia com o grêmio da escola, jogos intercolegiais. Logo depois, fui um dos fundadores do Bloco Eva. Em seguida, fui presidente do Esporte Clube Vitória e também sou cônsul da Coreia do Sul na Bahia. Enfim, gosto de diversos desafios que fazem com que nos motive cada vez mais. Crescer e consolidar os nossos negócios e a nossa vida.
BA – Esse desafio de levar a Lemos Passos da Bahia para outros estados e países. Qual o orgulho que o senhor sente?
AL – Não vou falar do trabalho concluído porque ainda temos muito ainda a crescer, mas chegamos a um patamar que nem todos conseguem, muitos sonham, pensam e trabalham para isso. Mas independente de capacidade ou não, nem todos conseguem e nós estamos conseguindo. Ainda precisamos crescer muito, mas já conseguimos realmente colocar a Lemos Passos na história do nosso segmento.
BA – O senhor poderia traçar um perfil hoje da Lemos Passos?
AL – A Lemos Passos é uma empresa que fará 62 anos e atua em 12 estados do Brasil com 3.600 colaboradores com escritório em Panamá e Portugal. Fornecemos aproximadamente 400 mil refeições ao dia. Hoje, no Ranking da Aberc (Associação Brasileira das Empresas de Refeições Coletivas), somos a quarta maior empresa do País no nosso segmento, atrás apenas de três multinacionais, e nos próximos cinco anos, o nosso objetivo é dobrar de tamanho. Ano passado, crescemos 26%, apesar de toda crise e a pandemia. Agora em 2023, já fechamos aproximadamente 20 contratos neste primeiro semestre, e acredito que dará um crescimento superior ao ano de 2022.
BA – Qual o perfil da pessoa para trabalhar na Lemos Passos?
AL – Primeiro, competência. Segundo, vestir a camisa. Acredito que hoje o mundo exige muito mais que somente profissionalismo, mas, sim, maior dedicação. E a nossa equipe em todo o Brasil é muito dedicada em sua grande maioria porque não somente a empresa ganha como também os seus colaboradores são beneficiados com esse crescimento e a consolidação da Lemos Passos.
BA – Qual a qualificação do profissional exigida pela Lemos Passos, que é uma empresa que trabalha com a manipulação de alimentos?
AL – Quando surge uma vaga aqui na empresa, seja ela operacional ou no escritório e cada função tem uma exigência diferente e necessita um padrão de exigência da empresa, sempre há uma capacitação, na qual investimos muito em nossa equipe e graças a Deus temos obtido bastante sucesso.
BA – Antigamente as empresas tinham um profissional de confiança e ficava muito restrito ao crescimento, o que mudou nessa relação hoje?
AL – Não mudou nada. Apenas quando a empresa cresce passa a abrir mão de alguns detalhes de passar pelo dono da empresa. Portanto, tem-se que ter uma equipe que faça esse aspecto. Assim, você dirige suas energias para outro setor dentro da empresa e isso passa a você confiar em sua equipe, passando algumas responsabilidades para esses executivos.
BA – Fale sobre o programa implantado pela empresa?
AL – Foi o que fiz com os meus filhos. Eles estudaram em São Paulo e acompanharam durante um ano aqui na empresa de todas reuniões que eu participava. O programa é denominado de Projeto Sombra. Aceitamos estudantes de faculdades e escolas secundárias para ver o dia a dia da empresa. É muito fácil para quem estar de fora, porém não imagina a complexidade que é dirigir uma empresa. Principalmente, no País que a gente vive com legislações cruzadas e absurdas, enfim, é matar um leão por dia. E nós fazemos com que as pessoas no dia que passam aqui acompanhando todo o processo entendam como é realmente uma empresa.
BA – Ficou muito em voga hoje o conceito ESG e sabemos que a Lemos Passos já vem praticando essa tríade de Desenvolvimento, Governança, Sustentabilidade. Como a Lemos Passos está se situando nesta nova forma de trabalho nas corporações?
AL – Mesmo essa sigla sendo bem recente nós já atuamos com a sustentabilidade há muitos anos. Temos trabalhado nas nossas unidades, por exemplo, de não jogar óleo fora, concentrando o recolhimento deste material com algumas cooperativas que é transformado em produto. Temos também o aproveitamento de alimentos que não foram consumidos. E continuamos trabalhando para que o mundo se torne cada vez mais sustentável.
BA – Com relação a esse homem multifacetado que vem praticando a responsabilidade social através de sua empresa, como você pode defini-lo?
AL – O lado do empresário não é só ganhar dinheiro. Ganhar dinheiro é o objetivo da empresa, mas temos a obrigação social. Nós empregamos aqui mais de 60 meninos da Apae. Como menor aprendiz. Talvez é a empresa que mais emprega e utiliza a mão de obra da Apae e é um trabalho que nos dá uma satisfação muito grande. É o lado social da empresa. Procuramos apoiar todas as campanhas e acompanhar também nossos funcionários, que em sua maioria são pessoas que tem um desequilíbrio econômico grande, infelizmente isso no nosso País é o que mais acontece.
BA – Quantas refeições são servidas por dia pela Lemos Passos.
AL – Aproximadamente 400 mil por dia e oito a nove milhões por mês. Vou dizer aqui alguns números que impressionam: carne bovina, são 128 toneladas por mês; carne de frango, são 84 toneladas por mês; mariscos e peixes, são mais de 30 toneladas por mês e 25 mil ovos por semana.
BA – A Lemos Passos é a empresa que qualquer supermercado gostaria de ter como cliente. Como ela trabalha com esse segmento de abastecimento?
AL – Como temos origem de atacadista temos muitos contatos diretos com os fabricantes e produtores, sendo boa parte destes produtos comprados diretamente dos produtores em toda a parte do Brasil.
BA – O que a Lemos Passos exige dos fornecedores na hora da compra de produtos?
AL – O básico: qualidade e preço. E é feita uma exigência mínima obedecendo as características da empresa. Temos uma unidade onde fazemos testes em todos os produtos e é feito um relatório para que o setor de suprimentos possa colocar esse produto no nosso cadastro de fornecedores.
BA – Quantas unidades são servidas pela Lemos Passos?
AL – Cerca de 250 unidades com duas divisões: a pública e privada. A pública envolve escolas municipais, hospitais e presídios e fica em torno com 50% do nosso faturamento. E a outra metade fica com o serviço privado; indústrias e hospitais privados.
BA – Para poder ter o serviço da Lemos Passos, o que é preciso.
AL – Entrando em contato conosco que temos o maior prazer em atender e levantar a necessidade de cada empresa para apresentarmos a nossa proposta.
BA – Como ex-presidente do Esporte Clube Vitória, como o senhor observa atualmente o Clube?
AL – Espero que agora o Clube tenha encontrado o seu caminho. O que mais atrapalha um clube é a falta de continuidade administrativa e no Vitória ocorreu muita troca de presidentes. O Vitória voltou agora a ser o que era nos anos 70 e 80. Quando assumi o Clube no final de 1987, tinha 27 anos de idade, e fiquei até o período 1991. Eu quebrei esse ciclo de alternar de presidentes. Depois que sai foi eleito Paulo Carneiro, que ficou durante muitos anos e acho que isso foi prejuízo para o Clube porque nem tão pouco nem tão muito. Depois entrou Alex Portela, que também ficou muito tempo mas fez um excelente trabalho e, logo voltou esse ciclo de alternância muito grande de troca de presidentes. Espero que com Fábio Mota, presidente do Clube, que apoiamos totalmente, esse problema venha acabar e que o Vitória volta a crescer, subindo para a primeira divisão. Hoje o Clube praticamente não tem receita, vive do esforço muito grande de Fábio Mota e a sua equipe para manter o Clube na situação que está.
BA – Sobre a terceira geração familiar que está a caminho, o que o senhor tem a dizer?
AL – É uma geração diferente da nossa. Na nossa época havia o jornal, a televisão e o rádio como mídia para divulgar. Hoje, são mais de mil mídias de comunicação para tirar o foco desta juventude que está vindo e meus filhos não são diferentes dos outros. Mas aqui é um trabalho de 60 anos muito bem consolidado dos filhos assumirem a empresa e nos preparando para essa fase de sucessão.
BA – Quais as lembranças que o senhor tem do Mercado do Ouro?
AL – Eu frequentei o Mercado do Ouro, o box 140, primeiro box que meu pai teve, chegando a 12 boxes. Meu velocípede ficava no box, eu ficava direto com meu pai. Nas férias, muitos iam se distrair mas eu ia ficar no box porque sempre gostei de negócios. Aos 14 anos já trabalhava com o meu pai e, aos 18, eu quase praticamente assumi a empresa com ele. Crescemos e deixamos de ser atacadista para se consolidar no ramo de refeição industrial. O Mercado do Ouro ficou uma decadência e quando passamos lá ficamos com grande tristeza, porque aquilo que foi um grande polo de secos e molhados na Bahia, hoje está praticamente fechado.
BA – O que o senhor faz no seu dia a dia?
AL – Eu sempre dormi muito pouco. De domingo a domingo, durmo à meia-noite e acordo às 5 horas da manhã e vou lê o jornal e depois me dirijo até a empresa. Mas rotina é a mesma, o que não pode ficar é nada sem ser resolvido, tudo tem que ser resolvido no mesmo dia para não acumular, porque o volume já é grande e se deixar de um dia para o outro, a situação complica.
BA – E o que sobra para o lazer?
AL – Eu gosto de ficar com a família e também de ir para a fazenda. E o Esporte Clube Vitória que é a minha cachaça, que acompanho de minuto a minuto.